Como Pep se tornou Guardiola - PARTE 5
ALEXANDRE GONZALEZ
TRADUÇÃO SOPHIE BERNARD
ILUSTRAÇÃO MARCELO COMPARINI
ILUSTRAÇÃO MARCELO COMPARINI
JOGO BONITO
Pep voltou à Espanha está seguro de si como nunca.
Dias depois de deixar a Argentina, em 22 de outubro de 2006, declarou ao jornal
“Marca”: “Por que não poderíamos ter treinadores que defendam o jogo bonito?
Converso com muitos treinadores: ‘Como é esse jogador? Como faz aquele?’. Mas
não tem receita. No futebol, ganha-se com estilos muito diferentes. Precisamos
fazer as coisas como as sentimos. É a partir da bola que se constrói um time.”
Em 2006, Josep Guardiola tinha 35 anos, tinha
ideias, mas continuava desempregado. “Seu” clube, embora fosse campeão europeu,
estava desabando. Contagiado pela suficiência, o Barça de Frank Rijkaard vivia
suas últimas horas de glória. Txiki Begiristain, diretor esportivo do Barcelona
e braço direito de Joan Laporta, logo foi consultado por alguns dirigentes,
sabendo das intenções de Guardiola.
Begiristain então decidiu, para que seu ex-colega
se acostumasse, confiar a ele a direção da categoria de base e dar a Luís
Enrique o Barça B. Desapontado, mas leal a seu clube de sempre, Pep aceitou. Só
pediu um último encontro com Begiristain. “Pep me falou sobre sua vontade de
treinar. Entendi que era o momento dele”, diz o ex-diretor dos esportes do
Barça.
Em 21 de junho de 2007, seis meses depois da viagem
à Argentina, Guardiola foi nomeado treinador do Barça B, que estava na terceira
divisão do campeonato espanhol.
Munido de princípios e teorias, foi confrontado
pela primeira vez com a realidade da vida de treinador. Alertado por amigos
sobre as dificuldades das divisões inferiores, o primeiro trabalho do técnico
“blau-grana” (azul e grená) consistiu na seleção de um grupo.
Ele tinha poucos dias para reduzir o número de
jogadores de 50 a 23, destruindo o sonho de vários. As primeiras dúvidas
surgiram logo no primeiro jogo, que acabou… em derrota. Guardiola se empenhou,
construiu um time no qual um certo Sergio Busquets se impôs no meio do campo;
no qual, na ponta direita, Pedro Rodriguez oferecia seu jogo feito de
percussões.
Dois meses após o início do campeonato, Guardiola
resumiu: “Ser treinador é fascinante. É por isso que os treinadores acham tão
difícil parar. O trabalho traz uma sensação permanente de excitação, de que o
cérebro gira o tempo todo a cem por hora. Começar na terceira divisão me
tornará um treinador melhor, se um dia eu ocupar o banco de um profissional.
Hoje sou melhor que dois meses atrás.
“Nunca tinha sido confrontado com 25 caras
esperando que eu dissesse algo. Hoje posso ficar tranquilo na frente deles.
Antes, no intervalo, não sabia o que dizer.”
NÚMERO UM
Guardiola sabia as palavras certas, seu time venceu
o campeonato e o Barça B subiu para a segunda divisão.
Ao mesmo tempo, no andar de cima, Rijkaard deixou
escapar para o Real, pela segunda vez seguida, uma liga que estava na mão.
Laporta entendia que o holandês não tinha mais autoridade sobre um grupo
dominado pelos egos de Ronaldinho Gaúcho e Samuel Eto’o. Começou então uma
disputa de poder nos bastidores do Camp Nou entre os conselheiros do
presidente.
Laporta conta: “Minha ideia era que Johan [Cruyff]
treinasse o time, tendo Pep como adjunto, e que, na temporada seguinte, ele
virasse o número um. Johan não disse nada. Eu o conheço, sei que toma decisões
rápido. Por fim, ele me disse que deveríamos nomear Pep logo. Txiki concordava:
‘Guardiola está pronto para ser treinador do primeiro time’. Propus essa
solução numa reunião. Alguns eram a favor, outros queriam Mourinho. Falei:
‘Mourinho não, vai ser o Pep’.”
Em 8 de maio de 2008, menos de dois anos depois de
receber o diploma de treinador, Guardiola foi nomeado técnico do time do qual
fora capitão e símbolo por cerca de dez anos. Sua primeira medida foi impor o
afastamento das três estrelas: Ronaldinho, Deco e Eto’o.
Os dois primeiros aceitaram; o camaronês ganhou uma
temporada de descanso. No primeiro treino, Pep se dirigiu aos jogadores: “Não
vou prometer que vamos ganhar títulos. Vamos tentar. Mas apertem bem os cintos,
porque vocês vão passar ótimos momentos.”
Pep acabava de se tornar Guardiola.
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