Publicado no Jornal Folha de São Paulo no caderno Ilustríssima (de 12 de fevereiro) - (no blog reproduziremos a matéria na íntegra, em 5 partes)
ALEXANDRE GONZALEZ
TRADUÇÃO SOPHIE BERNARD
ILUSTRAÇÃO MARCELO COMPARINI
ILUSTRAÇÃO MARCELO COMPARINI
LA VOLPE
Obsessivo e perfeccionista, Pep lista os técnicos
com quem os quais gostaria de conversar. O primeiro é um argentino de bigode
ameaçador, desconhecido na Europa, Ricardo La Volpe.
Na Copa do Mundo de 2006, Guardiola escreveu no
jornal “El País”, e suas análises dos jogos e reflexões sobre futebol deixaram
muita gente desconcertada. Só uma seleção agrada ao catalão. Não é a Alemanha
de Jürgen Klinsmann, nem a Itália de Marcello Lippi, mas o México de La Volpe.
Ele escreveu: “Johan Cruyff dizia: o mais
importante no futebol é que os melhores jogadores sejam os zagueiros. Se você
sai com a bola, consegue jogar; se não, não faz nada. Johan diz que a bola
equilibra um time. Se perde a bola, o time se desequilibra; se perde pouco,
consegue manter o equilíbrio. La Volpe decidiu que sua defesa saísse jogando, e
não que começasse jogando, o que é diferente.
“Para La Volpe, começar a jogar é tocar a bola
entre os zagueiros, sem maiores intenções. Mas La Volpe os obriga a fazer outra
coisa. Ele os obriga a sair jogando, obriga os jogadores e a bola a avançarem
juntos e ao mesmo tempo. Soube que, nos treinos, La Volpe pede aos zagueiros
que corram com a bola por 30 minutos sem parar. Se alguém faz um passe errado,
se o campo não é usado em toda a sua extensão, se um passe não é dado para o
goleiro como manda o jogo, ele pede para recomeçar do zero.
“Ele corrige, grita, e tudo recomeça. Uma vez,
depois outra. Cem vezes, se for preciso. E ver seu México jogar é fantástico.”
Nem mais nem menos do que uma declaração de amor.
Mesmo que isso não agrade a Guardiola e ao seu
romantismo, La Volpe foi demitido após ser eliminado nas oitavas de final,
apesar de os mexicanos terem dominado a Argentina durante todo o jogo; o
futebol só vive de vitórias.
Pouco acostumado a falar com a imprensa, La Volpe
declarou: “Sei que Guardiola mencionou meu nome várias vezes, dizendo que fui
um dos que mais o influenciaram. Talvez se inspirasse em mim nas triangulações
ao chegar à área adversária. E disseram que dedicou a mim a Liga dos Campeões
de 2009 [Barcelona 2 x 0 Manchester United], mas ele nunca me disse isso.
“Acho que seguimos o mesmo caminho. Gostamos de
tomar a iniciativa do jogo, que o jogador assuma a responsabilidade de
conduzi-lo. É assim que se faz bom futebol. Ele faz isso e ainda vence. Alguns
de nós foram criticados por tentar e não vencer, é a regra do jogo”.
La Volpe seria demitido do Boca Juniors (2006), do
Vélez Sarsfield (2007), do Monterrey (2008) e da seleção da Costa Rica (2011).
Apaixonado pelo método argentino, como mostram suas relações com Cappa e La
Volpe, por fim Guardiola atravessa o Atlântico.
Aproveitou uma viagem a trabalho de seu amigo David
Tureba, cineasta e escritor, para voar a Buenos Aires. Era outubro de 2006.
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