Como Pep se tornou Guardiola - PARTE 3
ALEXANDRE GONZALEZ
TRADUÇÃO SOPHIE BERNARD
ILUSTRAÇÃO MARCELO COMPARINI
ILUSTRAÇÃO MARCELO COMPARINI
ARGENTINA
Na capital argentina, Pep deixou sua bagagem num
hotel do bairro de Palermo. A primeira visita que fez não foi a um treinador,
mas a um nerd louro, um Mark Zuckerberg argentino, de cabelo comprido. Matias
Manna é o criador do blog Paradigma Guardiola (paradigmaguardiola.blogspot.com).
Ele analisa, com vídeos, pausas e reflexões perspicazes, o futebol de Pep.
“Desde 2005, vou decifrando a maneira de pensar e
as convicções futebolísticas de Guardiola”, diz Manna. Ele conta como começou
sua amizade com o atual treinador do Barcelona: “Eu o contatei por e-mail e ele
respondeu. Sempre se mostrou aberto. Um dia, disse que estava vindo à Argentina
e propôs um encontro. Passamos um dia juntos. Falamos muito de futebol.
“Dei a ele o livro ‘Lo Suficientemente Loco’, uma
biografia de Marcelo Bielsa. Ele me agradeceu e foi deixar as malas no quarto.
Quando desceu, minutos depois, citou quatro ou cinco conceitos de jogo que
estavam no livro. Isto é: no elevador, voltando do quarto, já tinha entendido a
essência.”
No dia seguinte, Guardiola decidiu assistir a um
River-Boca, no Monumental de Nuñez. Seu ex-colega no Dorados Angel “Matute”
Morales, conseguiu um ingresso para ele. Pep se misturou à multidão e, na fila
para entrar, foi parado por seguranças. “Não o reconheceram”, conta Morales.
“Foi revistado como qualquer um, mas não disse uma palavra, não protestou.”
Seu caminho o levou a César Luis Menotti, técnico
campeão do mundo em 1978 e técnico do “seu” Barça na temporada 1983-84.
Como um velho sábio, Menotti recebeu aquele que,
por enquanto, era só um jovem aposentado do futebol. O encontro aconteceu num
restaurante do bairro de Belgrano, em meio a uma nuvem de fumaça de cigarro e
cheiro de uísque.
“Quando Pep me procurou, algo já o distinguia: ele
tinha ideias claras. Não chegou como outros, que queriam que eu desse o
caminho, como se fosse o Messias. Ele já sabia. Então disse a ele: ‘Quer ser
treinador? Não tenha dúvidas, vá fundo. Seja treinador, e assim as críticas
serão mais bem divididas, não vão mais ser só para mim’.”
Guardiola deixou-se seduzir e também tranquilizar
pelo discurso radical do mentor de Maradona. O terceiro e último encontro irá
confortá-lo ainda mais na sua decisão.
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