quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Head Coach FCB - by Rodrigo Azevedo Leitão



A história tática do dia que enfrentei o FC Barcelona

texto do professor Dr. Rodrigo Azevedo Leitão publicado originalmente na Universidade do Futebol (Janeiro/2011) 

Confira detalhes sobre estruturação do espaço no campo de jogo contra a equipe sub-17 do clube catalão

Faz algumas semanas, escrevi um texto sobre com vencer a equipe do FC Barcelona.
Alguns dias depois tive oportunidade de ficar sete dias em contato com a comissão técnica da equipe sub-17 catalã. Muitas informações importantes foram colhidas e trocadas.
O mais interessante, no entanto, veio ao final desses sete dias (em um sábado). Em decorrência do chaveamento do torneio que participava com minha equipe juvenil, enfrentaria justamente o FC Barcelona.
No dia anterior ao jogo recebi alguns e-mails lembrando-me do texto que havia publicado sobre como vencer o time espanhol – e que não poderia haver outro resultado (para manutenção da minha credibilidade) que não fosse minha vitória.
Obviamente que quando escrevi o texto, me referia ao primeiro time do FC Barcelona.
Porém, em função do processo de formação de atletas e equipes da “máquina” catalã (muito bem estruturado, vale salientar), desde cedo, o Modelo de Jogo dos profissionais é trabalhado e desenvolvido nas categorias de base, buscando constantemente ajustes que levem o processo para a excelência.
Então, não haveria desculpas plausíveis. Era a vitória ou “nada”.
Pois bem, jogamos e minha equipe venceu por 4 a 0 (e ainda teve o quinto gol anulado no final do jogo). Isso faz quase um mês, e desde então venho recebendo mensagens de leitores pedindo para contar a “história tática” do jogo. Como ela é muito longa, resolvi, contar um pequeno pedaço (pedaço fractal) dela.
Vou falar um pouco de algumas pequenas questões referentes a estruturação do espaço de jogo. Como já mencionei outrora, o FC Barcelona tem algumas características muito presentes em sua identidade.

Head Coach FCB - by Rodrigo Azevedo Leitão


Chelsea vs Barcelona, o 2º confronto: a beleza do jogo, a ingenuidade de Nuno Amieiro e a minha.

texto do professor Dr. Rodrigo Azevedo Leitão publicado originalmente na Universidade do Futebol (Maio/2009) 

O futebol é Arte e Ciência. Uma Arte que, abstrata, é bela de maneira diferente a cada olhar que a penetra. Uma Ciência que não é exata, porque nem toda Ciência é exata – e nem por isso deixa de ser Ciência.
Como diria o professor Alcides Scaglia (aqui espero não ser traído pela minha memória para poder ser exato e fiel a sua fala) para apreciar o futebol de hoje não podemos observá-lo com os mesmos olhos e pressupostos de ontem; para entender sua beleza precisamos avançar a novos paradigmas.
Olhar o jogo de futebol como fenômeno complexo não é trivial. Insistentemente grandes partidas e circunstâncias do jogo são analisadas sob a perspectiva dos óculos do ontem, que contribuem muito pouco para o entendimento da complexidade do jogo do hoje.
Para avançar a essa discussão e compartilhar um pensamento, aqui nesse ponto, passarei a falar do segundo jogo entre as equipes do Chelsea FC e do FC Barcelona, válido por uma das semi-finais da UEFA Champions League 08/09 (dando sequência então a uma idéia que iniciei no texto anterior a esse).
Antes, lembro que a primeira partida entre as duas equipes (na Espanha – e que terminou em zero a zero) foi motivo para diversas ondas de comentários. Algumas criticando o comportamento tático da equipe inglesa, desenhando-o como covarde, feio, o anti-futebol.
Jorge Valdano expôs o seguinte no jornal “A Bola” (de 2 de maio):
Foi surpreendente a quantidade de opiniões favoráveis que teve a estratégia do Chelsea: com perseguições individuais, centrocampistas de grandíssimo nível que não pisaram a área contrária, interrupções frequentes para interromper o ritmo do Barcelona... O negócio saiu-lhes redondo porque encontraram o 0-0 que procuravam. Só por isso, para certa crítica, já obtiveram a patente de equipa inteligente. O que me parece incrível é a pouca generosidade que temos para com as equipas que assumem o risco, o jogo, futebol grande. Só ganham o elogio quando ganham o jogo. Ao invés, os espectadores aplaudem os empates ainda que seja à custa de varrer o espetáculo”.

Head Coach FCB - by Rodrigo Azevedo Leitão

Barcelona vs Chelsea: covardia, retranca ou estratégia?


texto do professor Dr. Rodrigo Azevedo Leitão publicado originalmente na Universidade do Futebol (Maio/2009)

Ainda que muita gente acredite no contrário do que vou dizer, vou “contradizer o contrário”.
Em jogo válido pelas semifinais da UEFA Champions League 08/09, as equipes do FC Barcelona e do Chelsea FC se enfrentaram na Espanha, em uma partida que despertou uma série de comentários e teorias.
No “papo de arquibancada” o de sempre: “o Barcelona dominou o jogo e merecia a vitória; o Chelsea foi uma equipe covarde que só quis se defender”; e ainda: “também se o Chelsea fosse tentar sair para o jogo não teria a menor chance”.
Antes de qualquer coisa, vou me expor à primeira polêmica. Se o Barcelona tivesse dominado o jogo não teria ele vencido a partida?
Vou esclarecer.
Há alguns anos (talvez muitos!) antes das tão midiáticas lutas de MMA (Mixed Martial Arts) lembro-me dos primeiros “combates” internacionais entre faixas-pretas que tive oportunidade de assistir (o que na época era chamado de “vale-tudo”).
Recordo-me de uma luta do brasileiro Rickson Gracie contra um “gigante” que realmente não consigo lembrar o nome. Já com algum tempo de “combate” quando o brasileiro aparentemente dominado pelo seu oponente (apesar de uma duvidosa expressão de tranqüilidade) estava, segundo o “narrador”, prestes a ser derrotado; o inesperado: seu adversário “bateu” pedindo para o árbitro interromper a luta antes que Rickson Gracie quebrasse o seu braço.
O aparentemente dominado brasileiro vencia a luta; sem precipitação, sem desequilíbrio, com um controle e um domínio sabido somente por ele.

Head Coach FCB - by Rodrigo Azevedo Leitão


A preparação física no FC Barcelona, e a campanha “avisem o Juca Kfouri”

texto do professor Dr. Rodrigo Azevedo Leitão publicado originalmente na Universidade do Futebol (Julho/2009)

A preparação física no futebol vem evoluindo e sofrendo constantes transformações desde que passou a ser formalizada nas sessões de treinamento das equipes. No mundo todo, a organização do processo de treinamento desportivo também passou por modificações, que, de certa forma, influenciaram as transformações que se refletiram no futebol.
Recentemente o responsável pela preparação física da equipe do FC Barcelona, Francisco Seirul-lo Vargas (está lá, nesse trabalho, desde 1994), em um congresso na Espanha, surpreendeu a todos (ou quase todos), e, inclusive ao renomado cientista do treinamento Jurgen Weineck – presente no evento – , em sua explanação, mostrando que em sua equipe, os treinamentos “físicos” são realizados de maneira integrada aos objetivos do treinador, e são elaborados para contribuir com a construção do modelo de jogo adotado pelo FC Barcelona.
Seus treinos, então, pautados no jogo a ser jogado, distinguem-se do que tradicionalmente são adotados como modelo, meios e métodos de treinamento. As avaliações dos jogadores são qualitativas, realizadas no próprio jogo. Não há RASTs, Yo-Yos, testes de velocidade de limiar de lactato, altura de salto, etc., etc., etc. A melhor avaliação – parafraseando alguns presentes no evento – , é o futebol apresentado e o resultado dos jogos.
Claro, isso não quer dizer que devamos parar tudo, jogar fora décadas de treinos, e começar novamente de outro jeito. É inegável que métodos tradicionais têm conquistado grandes resultados – isso é um fato. O que quero destacar é que, primeiro, para a contextualização de um mesmo problema, caminhos diversos podem ser adotados como solução, e, esses caminhos, em curto e médio prazo (ah, o tempo!), podem não apresentar diferenças aparentes nos resultados obtidos; segundo, já faz algum tempo que um grupo (pequeno) de pessoas aqui no Brasil (treinadores de futebol, professores, cientistas) está apontando para o caminho descrito pelo preparador físico do FC Barcelona (inclusive com maiores avanços em algumas coisas), mas como o bom capital simbólico dessas pessoas está concentrado em alguns poucos nichos, a informação acaba não se disseminando.
Sobre o primeiro “destaque”, quero dizer, apoiado em um Prêmio Nobel, o pesquisador Ilya Prigogine, que certos fenômenos precisam ser observados por um tempo, que tem que ser o tempo do “próprio fenômeno”, e não o tempo que nós damos, sem saber, para ele. Então, se por enquanto, aparentemente, caminhos diferentes têm levado a bons resultados, aguardemos pelo que virá – e aos meus olhos, ao menos o jogar do FC Barcelona já me parece bem diferente de alguns outros.
Sobre o segundo “destaque”, quero dizer, que, façamos essa forma diferente da tradicional, de pensar a preparação desportiva, atingir rapidamente os alvos certos (os nossos treinadores de ponta, os preparadores físicos, os dirigentes). Nossos “pensadores da práxis” precisam ser ouvidos. Não dá para esperar o FC Barcelona ganhar mais um jogo (porque tem gente que vai acreditar, que o problema são só as “cifras”).
Então pessoal, falem para o Juca (o Kfouri), quem sabe ele não escuta, e convida um deles para uma entrevista na ESPN; ou então falem ao Jô (o Soares, para uma conversa inteligente), o Trajano, o Tostão, sei lá...
Só não me venham com o Galvão...

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